quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Por uma análise sociológica: O Simbolismo Religioso


Independentemente do tipo de comunicação, os símbolos têm outras modalidades de influência sobre a vida social, principalmente porque servem para concretizar, tornar visuais e palpáveis realidades abstractas, mentais ou morais, da sociedade.
O simbolismo religioso tem como fim ligar o homem a uma ordem supranatural ou sobrenatural. Mas pode sustentar-se que o simbolismo religioso não deixa de ser profundamente social. O simbolismo religioso alimenta-se do contexto social, que exprime realidades sociais, que tem alcance e consequências sociais. Assim, serve para distinguir os fiéis dos não-fiéis, o clero dos fiéis, os lugares sagrados dos lugares profanos, os objectos puros dos impuros, etc. Configura desse modo a própria textura da sociedade, para construir hierarquias. Seja pelo vestuário, por ritos, sacramentos, sinais invisíveis, a religião é rica em símbolos que dividem para melhor reunir (Rocher, 1989).
A própria vida religiosa é quase, universalmente, uma prática social, em que a solidariedade mística tem um papel central, detendo grande diversidade de símbolos para se exteriorizar e desenvolver. Por exemplo, a constituição de comunidades humanas geograficamente identificáveis que são ao mesmo tempo comunidades espirituais; as cerimónias que apelam à participação dos assistentes, como as oferendas, comunhões físicas; outras cerimónias como os ritos de iniciação, as cerimónias do casamento, os ritos fúnebres, etc.
Se a religião é dotada de símbolos diversos, é porque faz referência a um universo invisível, inacessível directamente, devendo portanto seguir a vida simbólica para manterem o homem em contacto com esse universo. Ora, a sociedade apresenta as mesmas características: transcende cada pessoa, requer a solidariedade de comunidades vastas, complexas ou mesmo dificilmente perceptíveis, obriga a relação entre grupos, colectividades e massas, etc. A sociedade e a sua complexa organização, não poderiam existir e perpetuar-se, tal como a religião, sem o contributo multiforme do simbolismo, tanto pela participação ou identificação que ele favorece como pela comunicação de que é instrumento (Rocher, 1989).
Pode-se dizer, então, que os símbolos servem para ligar os actores sociais entre si, por intermédio dos diversos meios de comunicação que põem ao seu serviço; servem igualmente para ligar os modelos aos valores, de que são a expressão mais concreta e mais directamente observável; por último, os símbolos recriam incessantemente a participação e a identificação das pessoas e dos grupos às colectividades e estabelecem constantemente as solidariedades necessárias à vida social. Por intermédio dos símbolos, o universo ideal de valores passa para a realidade, torna-se, simultaneamente, visibilidade e crença social.

ROCHER, Guy, Sociologia Geral – A acção social, Editorial Presença, 5ª Edição, Lisboa, 1989.

2 comentários:

Luís Lourenço disse...

Ola!
É so pra dizer que passei pelo vosso blog!

Portem-se bem!

Boa sorte para o vosso blog e se tiverem tempo passem pelo meu...

Vitor Andrade disse...

Olá caros colegas!

E andava eu aqui a pesquisar e pumba encontro blog muito interessante :)

Gostei de espremer o sumo dos v/ posts ;p

Continuem caros amigos ;)

Beijinhos e abraços